segunda-feira, 5 de maio de 2014

LIVRO- UM JOGO CADA VEZ MAIS SUJO

Um jogo cada vez mais Sujo: obra convincente revela entranhas do esporte

by Paulinho
jennings
Da FOLHA
Por JUCA KFOURI
Bem escrito e documentado, novo livro do jornalista britânico Andrew Jennings não dá prazer, senão asco
Em 2011, Andrew Jennings participa de audiência pública no Senado, em Brasília; no destaque, a capa de seu novo livro
"Um jogo cada vez mais sujo", o novo livro do jornalista britânico Andrew Jennings, é demolidor e faz um retrato impressionante de como funcionam os bastidores do esporte, mais os do futebol, mas sem esquecer os chamados esportes olímpicos.
Lançado pela Panda Books, a mesma editora de "Jogo Sujo", do mesmo Jennings, este tem a vantagem de dedicar mais espaço aos cartolas brasileiros e aos megaeventos que acontecerão no Brasil.
Jennings detalha mês a mês, ano a ano, o esquema de propinas da falida gigante suíça do marketing esportivo, a ISL, que abasteceu, entre outros cartolas espalhados pelo mundo, a dupla nacional João Havelange/Ricardo Teixeira.
Conta com detalhes de que maneira, Franz Beckenbauer à frente, a Alemanha ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2006. E o maior nome do futebol germânico não fica bem na foto.
Descreve minuciosamente as atividades do "Homem da Mala", o sinistro Jean-Marie Weber, que distribuía o dinheiro da ISL e estava com Havelange, em Copenhague, quando o Rio foi escolhido a sede da Olimpíada de 2016.
Revela detalhadamente o processo e o julgamento que levaram a Justiça da Suíça a desvendar um propinoduto que, segundo um dos juízes, chegou à casa dos US$ 100 milhões, porque, diziam os indiciados da ISL, é "assim que funciona no esporte", principalmente fora da Europa.
Fica claro que a "política de relacionamento" (este o eufemismo) da ISL a levou a ser extorquida até quebrar.
Mesmo quem é versado no tema se surpreenderá como grandes corporações de mídia e agências internacionais de publicidade são cúmplices de práticas eticamente reprováveis.
Do bicheiro carioca Castor de Andrade, íntimo da dupla Havelange/Teixeira, ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, a cadeia de atividades escusas impressiona.
Blatter é apontado de maneira convincente como alguém que sabia de tudo o tempo todo e que, maquiavelicamente, lançou cargas ao mar, sem descuidar de silenciá-las, quando a situação ficou insustentável.
Seu esforço para limpar a imagem da Fifa, segundo Jennings, é só para salvar as aparências, com investigadores de credibilidade duvidosa e escolhidos a dedo por ele mesmo.
O livro, que será lançado amanhã, deixa claro que o funcionamento do Comitê Olímpico Internacional não é muito diferente do da Fifa e, em seus 21 capítulos, por diversas vezes, convivem, nas mesmas cenas nebulosas, cartolas de ambas as entidades.
Não se trata de obra que o fã do esporte lerá com prazer. Ao contrário, lerá com asco.
Documentada, seu único pecado, embora compreensível, está na adjetivação, desnecessária pela consistência das informações, mas fruto da indignação do autor.
José Maria Marin, atual presidente da CBF, é agraciado com um capítulo só dele, no qual constam desde o episódio da medalha no bolso até suas peripécias como homem da ditadura brasileira.

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