quinta-feira, 1 de maio de 2014

Caio Blinder- Americano, o introvertido



No pior dos mundos
Que falta de comoção, de extroversão. A pesquisa Wall Street Journal/NBC News confirma como os americanos estão cada vez mais introvertidos, desejosos de um papel mais reduzido dos EUA no cenário global, apesar do duelo com os russos na crise ucraniana. Em um contraste marcante a décadas passadas, quase metade dos entrevistados (47%) disseram que os EUA devem ser menos ativos no exterior e menos de 1/5  pedem mais engajamento. Lideranças republicanas como o senador John McCain denunciam a flacidez diplomática do governo Obama, mas o sentimento antiintervencionista nesta pesquisa atravessa as linhas partidárias.
Obama tem justificado sua abordagem, dizendo que os advogados de uma atuação mais muscular não aprenderam as lições da decisão do governo Bush de invadir o Iraque (o país é tema da coluna de quarta-feira). No entanto, os americanos não se comovem com o retraimento de Obama, que, como tem sido a praxe, termina no pior dos mundos (sorry pelo trocadiho): ele assume o desengajamento desejado pela população, mas recebe notas baixas por esta postura. Nesta pesquisa Wall Street Journal/NBC News, o apoio ao desempenho do presidente na crise ucraniana caiu de 43% em março para 37%.
Ao mesmo tempo, 55% dizem que os EUA devem mostrar disposição para confrontar os inimigos e se manifestar por seus princípios. Difícil liderar este povo. Ele quer o melhor dos mundos sem pagar a conta do engajamento ou dedicar a devida atenção. E, afinal, quais seriam estes princípios? Se for defesa dos direitos humanos e luta pela democracia, o povo americano deveria se comover com a situação dos ucranianos submetidos ao assédio russo. Se for mero autointeresse comercial, os ucranianos que se danem.
Guerra na Europa?
Guerra na Europa?
Cansaço de guerra e mercantilismo também são flagrantes na Europa, como a coluna lembrou na conversa sobre o sonho daAlemanha de ser uma grande Suíça. Existe aversão na Alemanha a uma intervenção militar ocidental na Ucrânia e mesmo tolerância com a atitude russa (afinal, é quintal do Putin). No entanto, a edição da semana da revista Der Spiegel (li em inglês) expressa alarme com a possibilidade de uma guerra na Europa devido à crise ucraniana, dizendo que deixou de ser impensável.
Tal cenário incomoda muito os alemães. Afinal, um cientista político chamado Herfried Munkler propaga sua teoria de sociedades “heroicas” e “pós-heroicas”. Os alemães já estão na fase do pós-heroísmo, que é essencialmente uma expressão de prosperidade, enquanto em países mais pobres e menos desenvolvidos ainda existe o ideal do “heroísmo da masculinidade”.
Teoria boa para explicar o machismo de Vladimir Putin, mas furada no caso americano. Sabemos que nos EUA (o país ainda mais rico do mundo) a introversão alterna com desenvoltura muscular.

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