Sou uma pessoa preparada para notícias ridículas. É que, por necessidade do ofício e vocação masoquista, mantenho-me bem informado. Mas para tudo há um limite! Para essa notícia que acabo de ler, após quase 4 horas cansativas em uma reunião de condomínio, confesso que não estava pronto. Talvez seja o cansaço, não sei.
O Procon-RJ resolveu retirar das prateleiras ovos de Páscoa da Bis porque, alega, incitam o “bullying”. Quando eu dizia que essa coisa de “bullying” estava ficando patética, não me davam ouvidos. Tudo é “bullying” agora. Almas “sensíveis” não toleram mais nada: piadas, brincadeiras, troça, nada!
O “estado babá”, que não cuida de suas funções básicas, vai se intrometer na mensagem inocente de um ovo de chocolate! O leitor deve estar imaginando uma coisa escabrosa na embalagem, não é mesmo? Pois saiba que a frase é apenas “personalize a embalagem com adesivos e sacaneie seu amigo”. Ó, céus! Que coisa horrível!!!
De acordo com o Procon-RJ, a campanha publicitária do produto e a mensagem transmitida em sua embalagem estão em desacordo com o artigo 37, parágrafo 2°, do Código de Defesa do Consumidor, por incentivar a discriminação entre crianças e adolescentes. O processo determina que as vendas do ovo Bis Xtra + Chocolate estarão suspensas até que a mensagem em sua embalagem seja alterada e deixe de conter os textos de incitação à prática de bullying.
Entre os adesivos que podem ser utilizados por quem adquiriu o ovo de Páscoa estãoexpressões como “morto de fome”, “nerd” e “nervosinho”. No processo administrativo, o órgão estadual considera que, num momento em que o bullying vem sendo discutido pela sociedade, é inadmissível que um produto direcionado a crianças e adolescentes incite qualquer tipo de violência, inclusive a verbal, entre eles.
- A Páscoa possui uma mensagem de paz e confraternização e esta campanha manda sacanear os outros? – disse a secretária de Estado de Proteção e Defesa do Consumidor, Cidinha Campos.
Cidinha Campos foi até elogiada outro dia aqui, quando desceu a lenha no Marcelo Freixo, citando até a expressão que dá nome ao meu último livro. Mas me pergunto se ela efetivamente leu o meu Esquerda Caviar. Que coisa feia, Cidinha! Então agora uma simples brincadeira chamando o colega de “nervosinho” ou “nerd” é motivo para esse escarcéu?
Parêntese: se for, o ministro Guido Mantega praticou “bullying” outro dia mesmo. Chamou os investidores pessimistas (leia-se: os realistas) de “nervosinhos”. Como fica? O ministro pode? Só porque é nerd? Fecho o parêntese.
Sinceramente, é muito barulho por nada, e isso só é possível porque já aderimos completamente à ditadura do politicamente correto. Sou do tempo em que as crianças tinham que aprender a se virar mais, sem contar com tanto paternalismo, que acaba engessando sua própria capacidade de reação.
Mas essa geração “Merthiolate que não arde” (peguei nas redes sociais) não está preparada para nenhum contratempo. Tudo tem que ser legalzinho, suave, delicado. Nem armas de brinquedo pode mais! Que tipo de covarde dependente do estado para tudo será criado?
“Bullying” é coisa séria, que infelizmente acabou sendo totalmente banalizada. Tudo é “bullying” hoje, ou seja, nada é. O mundo está ficando um lugar muito estranho e ridículo. Socorro!
Rodrigo Constantino
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