segunda-feira, 3 de março de 2014

VIDA EM CUBA- YOANI SÁNCHEZ




Humor Gráfico de Santana
Tudo se move lentamente, pesado. Até o sol parece demorar mais do que o normal lá em cima. O relógio não entende exatidão e o ponteiro pequeno atrasa. Marcar um compromisso com exatidão de três e quinze ou de dez e quarenta se torna puro pedantismo de apressados. O tempo é denso como uma goiabada com muito açúcar.
“Se estás apressado tens um problema dobrado” a empregada adverte um cliente pressionado a chegar cedo a casa. O homem sua tamborilando os dedos enquanto corta suas longas unhas antes de sequer teclar um número na máquina registradora. Ele também olha para a fila atrás com zombaria; “outro que dá uma de acelerado” chega a dizer, aborrecida, uma senhora.
Habitamos um país aonde a diligência chega a ser interpretada como grosseria e ser pontual como uma petulância próxima da superioridade. Uma Ilha em câmera lenta que tem que pedir permissão a um braço para mover o outro. Um longo crocodilo que boceja e boceja nas águas do Caribe.
Aquele que numa jornada consegue concluir duas atividades poderá sentir-se um afortunado. O comum é não poder concluir sequer uma. A cada passo sobrevém um tropeço, um cartaz de “hoje estamos fechados para dedetização”, “nas sextas não atendemos o público” ou a frase raulista “sem pressa, porém sem pausa”. Demorar, postergar, suspender, cancelar… Os verbos mais conjugados quando se trata de burocracia.
O passo de tartaruga é visto por todos os lados. Dos escritórios burocráticos e paradas de ônibus aos centros recreativos e de serviços. Porém o grande ganhador do galardão: “xarope no sangue” é o próprio governo. Três anos depois de estar conectado ao cabo de fibra óptica entre Cuba e Venezuela ainda não é possível contratar uma conexão doméstica de Internet.
Duas décadas de dualidade monetária e, contudo não se publicou um cronograma para a eliminação desta esquizofrenia econômica. Cinquenta e quatro anos de partido único e não se vislumbra o dia em que poderemos nos associar livremente. Meio século de coices e erros governamentais e nem sequer começaram a esboçar uma desculpa.
Neste ritmo um dia se rebatizará a Ilha como o país do “nunca – jamais”, onde os relógios e os calendários serão proibidos.
Tradução por Humberto Sisley

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