terça-feira, 11 de março de 2014

VIDA EM CUBA- Por Yoani Sánchez

Crítica construtiva ou complacente?

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Levantou a mão durante a reunião. O diretor lhes havia pedido para falarem de forma franca, sendo assim aproveitou para botar para fora o que vinha calando há meses. Começou pelos salários baixíssimos que atormentam os trabalhadores da saúde pública. Depois falou sobre os banheiros sujos, da falta de água, das quebras do único esterilizador e das goteiras por todo o hospital. Continuou com o calor da sala de espera onde os pacientes se amontoavam e das carências do instrumental cirúrgico. Arrematou com a exclamação “não há quem agüente isto” o que mergulhou a sala num silêncio denso, incômodo.
Ao terminar alguém se aproximou para reprová-lo porque sua crítica não havia sido construtiva, mas sim uma simples catarse. Por isso não voltou a falar em nenhuma outra assembléia.
Por detrás do argumento de buscar uma crítica oportuna e edificante se escondem os que, na realidade, não querem nenhum tipo de crítica. Para eles ser propositivo significa incluir uma reverência e anteceder cada pedido de melhora com uma frase aduladora. Nunca se deve – segundo estes encorajadores do aplauso – questionar o sistema, mas sim os ineficientes que não o permitem funcionar. Ser “construtivo” equivale a não exigir dos líderes do atual processo político, muito menos por em dúvida o modelo ideológico. É necessário, além disso, mostrar uma fé cega em que tudo será resolvido com a “sábia condução” das altas instâncias.
Se alguém sai do roteiro da crítica tolerada, então a desqualificação choverá. Ressentido, sujo, chorão… Serão os primeiros insultos sendo que depois podem chegar os já mais fortes: “agente da CIA”, “contra-revolucionário” ou “inimigo da nação”. Suas observações nunca terão momento oportuno porque não incluem a submissão ou a confissão de culpa.
A crítica não precisa de adjetivo. Não deve ser classificada como “construtiva” ou “destrutiva”, mas deve ser levada a termo com crueza, sem cortesias. Como o medicamento que é espalhado sobre uma chaga purulenta, a crítica dói, faz chorar, atormenta… Porém cura.
Tradução por Humberto Sisley

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