quinta-feira, 13 de março de 2014

Opinião pública adormecida e deturpação de valores morais em curso

O alerta de Edmund Burke nunca foi tão importante: “Tudo que basta para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam”. Estamos vivendo tempos perigosos, onde a opinião pública anda muito adormecida, sob clara deturpação de valores morais.
Dois artigos publicados no GLOBO de hoje, um em cima do outro, mostram esta triste realidade por caminhos bem diferentes. Um deles é assinado pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Rinaldi. Fala do descaso com a morte de policiais em serviço. Diz ele:
Sim, a atividade policial é extremamente perigosa. Mas não, o povo não pode ser indiferente ao assassinato de um agente público. A morte de um policial em serviço deveria causar comoção popular muito maior do que o aumento de tarifas de ônibus. Nossa escala de valores morais está deturpada. A apatia é alarmante e nos enfraquece enquanto nação que busca, ou deveria buscar, a maturidade democrática. Lembremos a advertência de Dante Alighieri, ao lembrar que as regiões mais sombrias do inferno estão reservadas àqueles que permaneceram neutros em tempos de crise moral.
[...] quando a população se comporta com indiferença e insensibilidade às baixas sistemáticas de policiais (mal remunerados e mal equipados), nem a vocação será suficiente para manter os homens de bem em seus postos. O silêncio é grave. Esse comportamento estéril, de desconsiderar as instituições democráticas e seus agentes, cobrará um preço alto no futuro. Precisamos refletir, seriamente, sobre o modelo de país que estamos projetando.
A polícia talvez seja uma das instituições mais difamadas do país, especialmente pela esquerda, pelos artistas e “intelectuais”. Há até alguns que a acusam, como instituição mesmo, de ser “fascista”. Ninguém pode negar abusos, o baixo nível de muitos policiais, ou a existência da “banda podre”. Quem nunca se deparou com um policial corrupto?
Mas é muito perigoso quando tomamos o todo pela parte, e quando jogamos fora toda uma fundamental instituição para condenar uma minoria. Tenho certeza de que até a atriz Letícia Spiller, ícone da esquerda caviar defensora do socialismo cubano, deve estar agora torcendo para que a polícia possa fazer seu trabalho direito e punir os criminosos vagabundos queinvadiram sua casa ontem e lhe fizeram de refém, com a filha dormindo logo ao lado.
Ou a deputada do PCdoB, Manuela D’ávila, que teve seu carro de luxo roubado e disse ser vítima da sociedade violenta que combate. Garanto que a comunista, no fundo, deve ter lamentado profundamente a ausência da polícia no local, ou repudiado a impunidade que faz proliferar esse tipo de crime no país.
Precisamos da polícia, e precisamos de uma polícia decente. Mas não é difamando a instituição o tempo todo, julgando previamente todo policial como membro da “banda podre”, chamando a PM de “fascista”, defendendo mascarados dos black blocs ou vitimizando os criminosos que chegaremos lá. Ao contrário: é preciso despertar da perigosa sonolência e defender mais investimento na polícia, e louvar aqueles que lutam para preservar a ordem.
segundo texto que reflete a sonolência ou perda de valores morais da opinião pública é de Demétrio Magnoli e fala do programa Mais Médicos. O programa, como mostra o sociólogo, é apenas um método para financiar a ditadura castrista, ainda que, para tanto, tenha que rasgar as próprias leis trabalhistas do Brasil. Diz ele:
O Mais Médicos nasceu de uma articulação secreta entre Lula e o regime castrista concluída nas semanas dramáticas da agonia de Hugo Chávez em Havana, como resposta à hipótese de interrupção do programa de intercâmbio de médicos por petróleo. O novo contingente de “missionários” de Cuba chega ao Brasil na moldura do aprofundamento da crise econômica venezuelana e das incertezas sobre o futuro do governo de Nicolás Maduro.
Mas toda a operação de importação de médicos cubanos exige que se congele a vigência das leis brasileiras que asseguram direitos políticos e trabalhistas. Os primeiros precisam ser suspensos para assegurar o controle de Havana sobre “soldados de batas” inclinados a “desertar”. Os segundos, a fim de propiciar a transferência da quase totalidade dos recursos para o caixa do Estado cubano. Evidentemente, o esquema não funcionaria sem a cumplicidade ativa do governo brasileiro.
São fatos inegáveis, mas amplamente ignorados pela população brasileira. Como coloca Demétrio, “A solidariedade política entre uma democracia e uma ditadura destila, inevitavelmente, um ácido que corrói os valores da primeira”. Por que estamos, como nação, permitindo um absurdo desses? O que se passa com nosso senso crítico, com nossos valores morais? Isso coloca o povo como cúmplice também!
Essa letargia é extremamente preocupante. Nós, brasileiros, não podemos, depois, alegar ignorância, desconhecimento de causa, quando acontecer o pior. Estamos sendo coniventes com um governo que é sócio de uma ditadura cruel e assassina. Como conclui Demétrio: “Que isso aconteça sem maior escândalo é atestado da falência das oposições e de um perigoso amortecimento moral da opinião pública”.
Como fica claro, dois casos bem distintos, mas que apontam na mesma direção: a opinião pública brasileira colocou seus valores morais em modo de hibernação completa. Nada bom pode resultar disso. São tempos sombrios. Que as pessoas de bem ainda consigam acordar e agir a tempo de se evitar o pior.
Rodrigo Constantino

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