quarta-feira, 5 de março de 2014

‘De papo pro ar’, por Carlos Brickmann

Um músico notável, Joubert de Carvalho, um poeta de primeira, Olegário Mariano, compuseram há mais de 80 anos o hino das Excelências brasileiras: De Papo pro Ar, um belo cateretê. O ritmo cateretê quase desapareceu; mas como tem gente de papo pro ar!
Como estão quase todos de papo pro ar, o calendário legislativo para o segundo semestre prevê que julho, como de hábito, terá o recesso. Em junho, agosto e setembro, o Congresso prevê uma semana de trabalho por mês (não se iluda: é a semana parlamentar, que vai de quarta à tardezinha de quinta). Em outubro, há eleições; eventualmente, virá um segundo turno; há as discussões sobre os resultados e as articulações para montar os novos governos. Novembro é para descansar dessa trabalheira toda, e dezembro é o mês de festas, que ninguém é de ferro.
Mas não esqueçamos os outros poderes. A transposição do Rio São Francisco, obra federal, com inauguração prevista para 2010, ficou para 2015, ou um pouco mais tarde. As obras de abastecimento de água em São Paulo, esquecidas pelo Governo estadual, agora foram lembradas ─ o que não significa, claro, que serão realizadas (afinal de contas, qual o problema de perder um quarto de toda a água tratada só no trajeto para os consumidores?) O trem-bala estará pronto para a Copa ─ mas não essa. É para a terceira Copa a se realizar no Brasil, algum dia.
E a Justiça? Continua ocupadíssima em dar entrevistas e manter suas férias de 60 dias. Sabe que os processos que estão na fila não vão fugir, e na fila ficarão.
Reformas, enfim
Mas nem tudo é crítica: calem-se os que caluniam o Legislativo, dizendo que não promove as reformas necessárias. Neste ano, logo após a Copa do Mundo, a Câmara dos Deputados promoverá uma bela reforma no plenário.
Itamaraty, sempre certo
O chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, comentando os problemas das manifestações de rua contra o Governo do presidente Nicolás Maduro, diz que o Brasil não está mudo diante da Venezuela. Figueiredo tem razão, o Brasil não está mudo diante dos conflitos e mortes no país vizinho. Está apenas cego e surdo.
Mas é Carnaval
Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, diz um dos belos sambas de Chico Buarque sobre o Carnaval. Quem sabe, quando a festa acabar, certas coisas esquisitas acabem também. Como esta determinação do apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, a seus seguidores: que não utilizem uma marca específica de maionese, a Hellmann’s, e evitem até mesmo aproximar-se de seu rótulo. Motivo? Sente-se, caro leitor, e apoie-se com firmeza nos braços da cadeira. “Hell”, em inglês, significa “inferno”. “Mann” em inglês não significa nada, mas parece com “man”, que quer dizer “homem”. Segue o raciocínio de Valdemiro: não se deve consumir um produto da marca “homem do inferno”, nem se deve passar o Satanás em seu pão, ou comê-lo na salada.
Ah, essa cultura de um livro só! O pior é que esse tipo de história aparece de tempos em tempos, sempre com as mesmas justificativas ─ e, cá entre nós, fazendo pouco de Belzebu, que deve ter tentações melhores que maionese para atrair as almas. Enfim, Hellmann’s vem do sobrenome de Richard Hellmann, alemão que abriu uma loja de sanduíches em Nova York e, diante do sucesso da maionese que sua esposa fazia, começou a vendê-la em potes, há uns 110 anos.
Tudo volta ao normal
Como o cavalheiro que deu o nome à maionese é alemão, como o final “mann” é alemão (e não inglês), que quer dizer Hell em alemão? Diz o Dicionário Michaelis que significa “claro, iluminado, luminoso; vivo; límpido; lúcido”.
Copa com tudo
Não leve a sério as notícias de que há estádios que não vão ficar prontos, que as instalações provisórias não serão erguidas, que a FIFA poderá transferir a sede da Copa. Vai ficar tudo pronto em tempo ─ talvez não com a antecedência desejada, talvez não com a qualidade prevista, certamente não com o custo orçado, mas em condições de funcionamento. Houve longo tempo para montar a Copa com todo o planejamento, toda a organização, com os menores custos; mas este último quesito é que criou problemas.
Planejar, organizar, realizar com prazo, tudo isso significa abrir concorrências, discutir preços, essa coisa chata. Quando tudo fica para a última hora, o importante é fazer, seja a que preço for. E é por isso que tudo fica para a última hora. Mas, mesmo com problemas, acaba saindo.

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