sexta-feira, 7 de março de 2014

ALEXANDRE GARCIA- O autor ! O autor !

No teatro, quando uma peça estréia com sucesso, a platéia, depois de muito aplauso, começa a pedir: “O autor! O autor!”. E o autor entra no palco para receber a consagração. Isso me vem à lembrança depois do julgamento da semana passada no Supremo. Quase três meses após ter condenado oito mensaleiros pelo crime de formação de quadrilha, por 6 x 4, o Supremo deu-lhes uma segunda chance, aceitando o recurso chamado de embargo infringente. E os julgou de novo, pelo mesmo crime. Entre um julgamento e outro, saíram dois juízes que condenaram e entraram dois, nomeados pela presidente Dilma, que absolveram, resultando num placar mais apertado que o anterior: 6 x 5. Difícil de entender a lógica: por 6 x 4 dá direito a recurso. Por 6 x 5 está absolvido.

O entendimento dos seis absolvidores é que não houve formação de quadrilha; apenas co-autoria. Parafraseando uma peça teatral de Pirandello, são “oito co-autores à procura de um autor”. Entre os co-autores, José Dirceu, que foi ministro chefe do gabinete do Presidente Lula; José Genuíno, que foi presidente do PT e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido. Se examinarmos as penas finais do longo julgamento, percebemos que os despachantes é que foram punidos; não os autores e beneficiados do esquema. Marcos Valério pegou 37 anos; os sócios dele, 17 e 19 anos; a dona do banco, 14 anos – todos em regime fechado. Os políticos que formavam – digamos – o esquema(não a quadrilha), ficaram com penas menores e se livraram do regime fechado. A funcionária de Marcos Valério foi mais punida que José Dirceu: 11 anos.

As pessoas não entenderam essa lógica. Pesquisa na internet mostra que 90% ficaram frustrados com o último resultado. Garçons e taxistas têm me abordado perguntando se isso não vai estimular ainda mais o crime. Um esquema de corrupção envolvendo muita gente é onde mais é necessário o conjunto de características que configuram uma quadrilha, mas, segundo os seis personagens do Supremo, parece que quadrilha é formada pelos que assaltam, seqüestram, traficam e matam. Os que desde sempre na história do Brasil meteram a mão nos bolsos do distinto público pagante, esses não serão quadrilheiros. Meros co-autores.

Tudo bem; decisão da corte Suprema não adianta discutir; cumpre-se. Deixe-se o exemplo de impunidade para as nossas crianças e adolescentes. A culpa é nossa, que os pusemos no mundo no país que tem esses costumes nada republicanos. Não é de hoje; quem quer que se interesse por nossa História vai ver que isso está arraigado profundamente na nossa cultura. Mas dá vontade, ao fim desse teatro com tantos co-autores, levantar-se na platéia, bater mão contra mão e bradar: “O autor! O autor”.



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