segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

JORGE OLIVEIRA- EM CUBA, O MUNDO NÃO É DOS NETS

Cienfuegos, Cuba – Apesar do discreto avanço econômico, o mundo da tecnologia da comunicação verdadeiramente ainda não chegou a Cuba. A informação, menos ainda. A Internet é um mundo distante, só alcançável nos hotéis mais luxuosos, mesmo assim custa o olho da cara: de 10 a 12 dólares a hora em Havana. A TV estatal tem três noticiários diários, mas as informações são filtradas pelo regime. A Telesur, TV venezuelana, chapa-branca do chavismo, retransmite sua programação diária em Cuba cultuando a figura do finado Hugo Chávez. No início deste mês, por exemplo, dedicou boa parte do horário ao aniversário de morte do ex-presidente da Venezuela retratando-o como um popstar, “o maior estadista do mundo”, como destacou o noticiário da TV.

Aqueles que estão acostumados à massificação da informação pela TV, rádio, jornal, revistas, outdoor e rede social certamente vão estranhar o silêncio conveniente da comunicação em Cuba. O Granma, porta-voz do Partido Comunista, é um jornaleco magrinho, recheado de notícias oficiais, muito chato de ler. Não existe banca de jornal ou revista, portanto, nenhuma informação externa chega aos cubanos pela mídia impressa. É como se o mundo tivesse parado com a revolução de 1959. Nos hotéis estão disponíveis os canais a cabo com o noticiário internacional, inclusive a norte-americana CNN.

O telefone celular é um objeto de desejo distante, privilégio de poucos para um país de um salário mínimo equivalente a 15 dólares. Assim, a imagem das pessoas apressadas nas ruas falando ao celular ou dedilhando o teclado do aparelho ainda está longe de acontecer. É estranho nao ouvir o barulho do toque do celular em nenhum lugar, quando isso se tornou uma praga no mundo depois que o telefone virou um dos símbolos da tecnologia moderna e do desenvolvimento da comunicação no planeta. No Brasil, por exemplo, o número de aparelho já é maior que o de habitantes.

A informação mais divulgada no país ainda é sobre as atividades do regime ou o sacrifício imposto a Cuba pelos Estados Unidos com o bloqueio econômico. Os outdoor exibem palavras de ordens revolucionárias e os muros estão pichados com frases que enaltecem o regime em todas as cidades do país. Não há propaganda de produtos na TV estatal, nem cartazes nas lojas ou nas ruas, mas marcas como a Nestlé, Benetton e Adidas, que veste o Fidel com seus moletons, já chegaram ao país.

A TV Globo, com as novelas bem produzidas, aguça o sonho de consumo da população ao exibir luxo e riqueza nos seus folhetins. Há décadas é um dos principais entretenimentos dos cubanos. Aqui, fala-se mais da “Avenida Brasil” do que da construção do Porto de Mariel, onde o BNDES afundou 700 milhoes de dólares nas sombras, com cláusulas sigilosas.

É certamente o fascínio pelo consumo e a desvalorização do peso frente ao Cuc, a moeda turística 13% mais valorizadas que o dólar, que provoca ruídos de cubanos insatisfeitos com a revolução de Fidel (fala-se em pelo menos 2 milhões de contrarevoloucionários no pais). Mas o silêncio imposto à comunicação evita manifestações mais intensas contra o regime no país.

A Livreta, o caderno do governo que controla a distribuição dos alimentos à população, ainda existe. A cota por cada família por mês é: açúcar, uma lata de óleo, ovos, feijão, macarrão, pães, café e arroz. Quando a ração acaba antes do final do mês, o cubano apela para o mercado paralelo ou vai às compras nos poucos mercados disponíveis. Aqueles que trabalham em atividades que geram o Cuc têm a opção de procurar as lojas e supermercados para comprar um ou outro produto de mais qualidade além dos distribuídos pelo governo.
Diário do Poder

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