sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Até mesmo José Serra está aflito com o PT

Não tenho simpatia por José Serra. Não pela pessoa em si, mas pelas ideias. Serra é, possivelmente, o mais à esquerda do PSDB, partido de centro-esquerda. Em muitos aspectos, dava para imaginar que sua gestão não seria muito menos intervencionista do que a de Lula – de quem Serra, inclusive, tentou tirar casquinha nas últimas eleições presidenciais.
Por isso mesmo é interessante verificar que até mesmo Serra está horrorizado e aflito com tanta incompetência petista, assim como com sua visão ideológica de mundo. O PT destruiu o Mercosul de vez, transformando-o em braço do bolivarianismo; pegou a bonança de fora e usou para populismo, matando a indústria nacional; e foi incapaz de administrar a economia, produzindo um cenário de estagflação.
Tudo isso foi apontado por Serra em sua coluna de hoje no Estadão. Serra é de esquerda, como reconhece até com orgulho. Mas não aplaude o chavismo, o que já o coloca como bem diferente dos petistas. Não é à toa que o PT gosta de “acusá-lo” de “direitista” ou “neoliberal”, como o PSOL já faz com o próprio PT. Para essa turma, quem não é socialista de carteirinha já é um “neoliberal”. Mas Serra, ao menos, aponta para os erros do PT de forma correta:
O colapso da política externa brasileira é apenas um detalhe da perda de rumo de um partido e de um projeto de governo que fracassaram. Sua agenda evaporou-se e, agora, os petistas estão à cata de outra qualquer que lhes permita montar, para usar o termo da moda, uma narrativa eficaz para a campanha eleitoral. Com a agravante de que aquela cascata da suposta “herança maldita recebida do neoliberalismo” já não cola. Não é mais possível demonizar as privatizações, agora que o PT se ajoelha no seu altar, orando pelo advento da grande panaceia para tudo.
O governo atual conseguiu a façanha de combinar a estagflação com expectativas péssimas sobre o futuro da economia, piores até do que os principais indicadores justificariam. O grande pesadelo dos agentes econômicos hoje não são o baixo crescimento, os juros siderais (de novo, os maiores do mundo) ou o déficit externo, o terceiro mais alto do planeta em volume e o segundo como porcentagem do PIB. O que os assusta de verdade é a possibilidade de que esse governo se prolongue por mais quatro anos. Haja aflição!
De fato, haja aflição! Ainda mais quando lembramos que nenhuma alternativa rejeita veementemente o nacional-desenvolvimentismo do PT. Rejeita, como no caso do PSDB, o chavismo, é verdade. O que não é pouca coisa. Mas ainda falta um partido que defenda abertamente a opção liberal para o Brasil.
Enquanto isso, não deixa de ser alvissareiro notar que até mesmo José Serra, o mais esquerdista dos tucanos, tem despertado para o mal que esse modelo intervencionista na economia causa ao país. Há esperança!
Rodrigo Constantino

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