JANER CRISTALDO
Amanhã, às 17h30m, será inaugurado em Porto Príncipe, no Haiti, o Espaço de Saúde Zilda Arns, em homenagem à médica catarinense nascida em Forquilhinha, sul de Santa Catarina.
"Houve uma coisa que aconteceu no Haiti muito tempo atrás, e as pessoas não querem falar sobre isso", disse em janeiro de 2010 o pastor evangélico Pat Robertson em um programa da Christian Broadcasting Network's (rede de teve comandada por Robertson). "Eles estavam sob o domínio francês. Você sabe, Napoleão 3º, ou o que for. Então eles se juntaram e selaram um pacto com o Diabo. Disseram: 'Vamos servi-lo se você nos tornar livres dos franceses’. É uma história verdadeira. Então, o Diabo disse: ok, negócio fechado."
Que um pastor evangélico diga isto é inteligível. Em um país religiosamente fanatizado como os Estados Unidos, o diabo ainda tem grande futuro. Que pessoas simples vejam terremotos como castigo divino, também se entende. Verdade que fica um tanto difícil entender como o bom Deus teria levado junto uma de suas mais fiéis servidoras, Zilda Arns, a Teresa de Calcutá tupiniquim, e quem conhece o que penso de Agnes Gonxha Bojaxhiu, a santarrona albanesa, sabe que nisto não vai nenhum elogio. Zilda Arns, hoje santa, pertenceu à ala mais rançosa da Igreja católica. Apesar de vivermos em país que se pretende laico, lutou toda sua vida contra o aborto e as pesquisas com células-tronco.
Sem falar que sua Pastoral da Criança não admitia anticoncepcionais nem preservativos. Quanto mais famintos existirem no mundo, mais aplainado fica o caminho até o Nobel da Paz, láurea que tem se caracterizado por prestigiar notórios vigaristas internacionais. Zilda tentou três vezes. Verdade que até hoje os noruegueses foram insensíveis às pretensões da irmã do cardeal fanzoca de Fidel Castro e defensor dos terroristas que um dia tentaram transformar o Brasil em uma grande Cuba. Mas na Folha de São Paulo, por conta própria, Eliane Cantanhêde chegou a conferir-lhe um prêmio Nobel da Paz póstumo.
Sua morte deve ter alguma explicação. Vai ver que foi dano colateral, como costumam dizer os militares americanos para justificar seus assassinatos de inocentes. De qualquer forma, causa espécie que, nestes albores do século XXI, alguém pense que terremotos têm causas teológicas e não geológicas.
Existe no entanto tese ainda mais insólita que a dos pastores evangélicos americanos. Ainda na Folha de São Paulo, Omar Ribeiro Thomaz, antropólogo e professor da Unicamp, culpava pelo terremoto não Deus nem o ser humano. Mas especificamente... o homem branco:
“Diante da fúria da natureza não cabe outro sentimento que o de uma frustração que deita raízes numa história profunda e que subitamente pode ganhar cor: o mundo dos brancos nos destruiu; o mundo dos brancos diz que quer fazer alguma coisa, mas o que faz, além de nutrir seus telejornais com fotos miseráveis que só fazem alimentar a satisfação autocentrada dos países ditos ocidentais?”.
A deduzir-se do artigo do antropólogo, os contingentes brancos que estão chegando ao Haiti para tentar salvar os sobreviventes do desastre, as somas milionárias que o Ocidente está despendendo para reerguer o Haiti, tudo isto não passa de “mauvaise conscience” do homem branco ocidental.
Essa agora! Fui responsável pelo terremoto e não sabia. Fomos nós, homens brancos, quem acionamos placas tectônicas subterrâneas para exercer nosso racismo e ódio contra os haitianos. Ainda bem que existem a Folha e a Unicamp para esclarecer-nos sobre nossas ações deletérias contra a saúde do planeta. Desculpem-me os leitores minha mão pesada. Se, em meio a tantos negros, matei alguns branquelas.
A pérola das Antilhas – isto é, o Haiti – gaba-se de ter sido o primeiro país latino-americano a declarar-se independente. Unidos sob a liderança de Toussaint L'Ouverture e, mais tarde, do ex-escravo Jean-Jacques Dessalines, negros e mulatos combateram as tropas francesas até a proclamação da independência em 1 de janeiro de 1804.
Independência para quê? Hoje, o Haiti é o país mais pobre do continente. Em um ranking de 180 países, seu PIB per capita ocupa o 130º lugar. A Libéria – isto é, a Terra Livre - foi fundada no século XIX por escravos libertos dos Estados Unidos, não tendo conhecido o domínio colonial. O país foi criado pela American Colonization Society, organização criada em 1816 por Robert Finley, cujo objetivo era levar para a África negros livres ou negros que tinham sido libertos da escravidão.
Segundo Finley e outros líderes americanos, os negros não seriam nunca capazes de se integrar na sociedade do país. A única solução seria reenviá-los para a África, para evitar tanto a criminalidade como o casamento interracial. Em 1821, a American Colonization Society adquiriu uma parcela de terra na África, onde se fixariam os primeiros colonos negros oriundos dos Estados Unidos. Em 1847, a Libéria declarou a sua independência, tornando-se o primeiro país africano a tornar-se independente. Independência para quê? Hoje, a Libéria é ainda mais pobre que o Haiti. No mesmo ranking de 180 países, seu PIB per capita ocupa o 159º lugar.
Conclusão? Antes que me chamem de racista, apelo ao testemunho de George Samuel Antoine, cônsul do Haiti no Brasil. Sem saber que estava sendo gravado pela reportagem do SBT Brasil, em janeiro de 2010 George Samuel Antoine - que deve saber do que fala - disse: “O africano em si tem uma maldição. Todo lugar que tem africano, lá tá fodido". Verdade que logo depois se apressou em dizer que foi mal interpretado. Mas não vejo muito como interpretar mal sua afirmação. Disse, está dito.
Por trás da bondade, muitas vezes se esconde a perversidade. Para atender milhões de miseráveis é preciso que existam milhões de miseráveis. O número deles seria menor se houvesse uma política de redução da natalidade. Isto, como boa católica, Zilda Arns não admitia. The sperm is sacred, como diziam os Monty Python. Esta atitude criminosa da Igreja romana, que só aumenta a miséria no mundo, está dizimando africanos aos magotes, em função da AIDS, nos países de predominância católica. A madre Teresa tupiniquim foi cúmplice desta política assassina. Com sua atitude hipócrita, Zilda Arns criava os miseráveis para depois atendê-los. A Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana é uma caftina de miseráveis. Não por acaso, só se expande em países pobres. Sem miséria, não é fácil ser santo. Falta clientela.
Este política pode ser vista em São Paulo. Quando alguma autoridade inventa de retirar os mendigos da rua, lá vêm as igrejeiras: "quem tirou daqui nossos mendigos? Queremos nossos mendigos de volta". Não estou usando de retórica. Esta frase eu a li no Ceciliano, boletim da paróquia de Santa Cecília, aqui ao lado de onde moro. Quando foram retirados os mendigos do largo que entorna a Igreja, os padres chiaram: queremos nossos mendigos de volta.
Miséria, bem explorada, dá lucro. Com milhares de mendigos na rua, estão garantidos os milhões de dólares que a Miseoror, a Cáritas e outras entidades européias – e inclusive o governo brasileiro – repassam para a tal de Pastoral da Criança. Com estes milhões, Zilda Arns fornecia aos miseráveis uma sopa feita de arroz, milho, sementes de abóbora e cascas de ovo. Esta gororoba foi saudada pelo senador Flávio Arns, seu sobrinho, como o grande "legado" deixado pela titia na luta contra a mortalidade infantil. Lula chegou a pedir um prêmio Nobel póstumo para a santarrona de Forquilhinha.
Obscurantismo, dizem os dicionários, é a atitude, doutrina, política ou religião que se opõe à difusão dos conhecimentos científicos entre as classes populares. O obscurantismo de Zilda Arns não se resume à condenação do controle de natalidade. Ao manifestar-se contra as experiências com células-tronco, a médica sanitarista de Forquilhinha negou a ciência e condenou experiências vitais para a humanidade. "Quanto mais próximo se está da ciência, maior o crime de ser cristão", já dizia Nietzsche.
Esta senhora, a estrela do terremoto no Haiti, de um obscurantismo que nos remete aos dias em que Galileu foi condenado pela Igreja Católica, está sendo hoje promovida a santa pela imprensa nacional.
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