quinta-feira, 14 de novembro de 2013

CARLOS BRICKMANN- ARMAI-VOS UNS AOS OUTROS

A contratação por fazendeiros de segurança armada, para evitar invasão de suas terras por índios, é assunto local ou nacional?
A julgar pela reação dos meios nacionais de comunicação, a decisão de produtores rurais de promover leilões de gado e destinar a receita à defesa de suas fazendas, a bala ser for necessário, é assunto local. Só veículos de Campo Grande, MS, estão dando a notícia. Os veículos nacionais por enquanto estão de fora.
De que se trata? Há propriedades invadidas e outras que correm o risco de invasão, especialmente na região de Sidrolândia. Produtores se reuniram na Acrissul, Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul, e decidiram doar gado para leilões cuja receita será destinada à defesa das áreas invadidas e sob pressão. “Faremos essa mobilização e usaremos os recursos para nos defender, isso através dos meios jurídicos legais”, disse o presidente da Acrissul,Francisco Maia. “Contrataremos seguranças e tudo o que for preciso para esta batalha”.
Não é questão de discutir quem tem razão. Se há invasões de terras, cabe à Justiça decidir quem tem razão e ao Governo e à Polícia fazer cumprir a decisão. Pode ser que os produtores se sintam inseguros com a inação governamental, mas armar-se para substituir o poder público não é uma solução aceitável. Se não houver motivo para que os produtores se sintam inseguros, mais ainda é necessária a ação do Governo, para evitar combates entre grupos armados, como se não houvesse lei, como se não houvesse autoridade, como se não fosse do Estado o legítimo monopólio do uso da força.
As autoridades sabem? Devem (ou deveriam) saber: não é segredo. No link www.campograndenews.com.br/rural/leiloes-serao-feitos-para-contratar-segurancas-para-propriedades-do-interior está a notícia completa da reunião em que os fazendeiros decidiram reunir recursos para ampliar sua capacidade, digamos, bélica. Se houver batalha, com tiros, mortes, sangue, os meios nacionais de comunicação finalmente darão a notícia, entrevistarão as autoridades, perguntarão o que está acontecendo? Ou estarão achando que, longe do Litoral, longe das maiores cidades, a região não é exatamente Brasil – talvez seja o faroeste?
Ninguém ainda está pronto para a batalha, mas a batalha já se delineia no horizonte. Vai ficar assim mesmo? Há tempo para cobrir os preparativos: os produtores organizam os leilões, os possíveis invasores montam seus acampamentos nas proximidades das áreas desejadas. Há tempo até para levantar a situação jurídica das áreas em disputa e ouvir todos os lados, antes de alguma tragédia. E entrevistar, além das partes diretamente envolvidas, o governador do Estado, o secretário da Segurança, autoridades federais. Que é que estão fazendo no caso?

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